sábado, 8 de maio de 2010

CULTURA HIP HOP

O hip hop é um movimento cultural iniciado no final da década de 1970 nos Estados Unidos como forma de reação aos conflitos sociais e à violência sofrida pelas classes menos favorecidas da sociedade urbana.[1][2] É uma espécie de cultura das ruas, um movimento de reivindicação de espaço e voz das periferias, traduzido nas letras questionadoras e agressivas, no ritmo forte e intenso e nas imagens grafitadas pelos muros das cidades.

O hip hop como movimento cultural é composto por quatro manifestações artísticas principais: MCing, que anima a festa com suas rimas improvisadas, a instrumentação dos DJs, a dança do breakdance e a pintura do grafite.[3] Tendo começado em Bronx, a cultura hip hop emergiu rapidamente para o mundo todo.[4]

A música hip hop não deve ser confundida com o rap (rhythm and poetry), pois este tem estrutura divergente da música hip hop em vários pontos, apesar de terem pontos em comum.[carece de fontes?] Existem rappers que não tocam hip hop, como Eminem e Racionais MC's, assim como existem músicos de hip hop que não fazem rap.[carece de fontes?] A premiação da MTV americana, o Video Music Awards, por exemplo, conta com duas categorias distintas: uma para melhor clipe de rap e outra para melhor clip de hip hop.

No Brasil, o movimento hip-hop foi adotado, sobretudo, pelos jovens negros e pobres de cidades grandes, como São Paulo, Rio de Janeiro[carece de fontes?], Brasília, Porto Alegre e Curitiba, como forma de discussão e protesto contra o preconceito racial, a miséria e a exclusão. Como movimento cultural, o hip-hop tem servido como ferramenta de integração social e mesmo de re-socialização de jovens das periferias no sentido de romper com essa realidade.

Índice

História

O hip-hop emergiu em meados da década de 1970 nos subúrbios negros e latinos de Nova Iorque. Estes subúrbios, verdadeiros guetos, enfrentavam diversos problemas de ordem social como pobreza, violência, racismo, tráfico de drogas, carência de infra-estrutura e de educação, entre outros. Os jovens encontravam na rua o único espaço de lazer, e geralmente entravam num sistema de gangues, as quais se confrontavam de maneira violenta na luta pelo domínio territorial. As gangues funcionavam como um sistema opressor dentro das próprias periferias - quem fazia parte de algumas das gangues, ou quem estava de fora, sempre conhecia os territórios e as regras impostas por elas,devendo segui-las rigidamente.

Esses bairros eram essencialmente habitados por imigrantes do Caribe, vindos principalmente da Jamaica. Por lá existiam festas de rua com equipamentos sonoros ou carros de som muito possantes chamados de Sound System (carros equipados com equipamentos de som, parecidos com trios elétricos). Os Sound System foram levados para o Bronx, um dos bairros de Nova Iorque de maioria negra, pelo DJ Kool Herc, que com doze anos migrou para os Estados Unidos com sua família. Foi Herc quem introduziu o Toast (modo de cantar com levadas bem fraseadas e rimas bem feitas, muitas vezes bem politizadas e outras banais e sexuais, cantadas em cima de reggae instrumental), que daria origem ao rap.

Neste contexto, nasciam diferentes manifestações artísticas de rua, formas próprias, dos jovens ligados àquele movimento, de se fazer música, dança, poesia e pintura. Os DJs Afrika Bambaataa, Kool Herc e Grand Master Flash, GrandWizard Theodore, GrandMixer DST (hoje DXT), Holywood e Pete Jones, entre outros, observaram e participaram destas expressões de rua, e começaram a organizar festas nas quais estas manifestações tinham espaço - assim nasceram as Block Parties.

As gangues foram encontrando naquelas novas formas de arte uma maneira de canalizar a violência em que viviam submersas, e passaram a freqüentar as festas e dançar break, competir com passos de dança e não mais com armas. Essa foi a proposta de Afrika Bambaataa, considerado hoje o padrinho da cultura hip-hop, o idealizador da junção dos elementos, criador do termo hip-hop e por anos tido como "master of records" (mestre dos discos), por sua vasta coleção de discos de vinil.

DJ Hollywood foi um DJ de grande importância para o movimento. Apesar de tocar ritmos mais pop como a discoteca, foi o primeiro a introduzir em suas festas MCs que animavam com rimas e frases que deram início ao rap. Os MCs passaram a fazer discursos rimados sobre a comunidade, à festa e outros aspectos da vida cotidiana. Taki 183, o grande mestre do Pixo, fez uma revolução em Nova Iorque ao lançar suas "Tags" (assinaturas) por toda cidade, sendo noticiado até no New York Times à época. Depois dele vieram Blade, Zephyr, Seen, Dondi, Futura 2000, Lady Pink, Phase 2, entre outros.

Em 12 de novembro de 1973 foi criada a primeira organização que tinha em seus interesses o hip hop, cuja sede estava situada no bairro do Bronx. A Zulu Nation tem como objetivo acabar com os vários problemas dos jovens dos subúrbios, especialmente a violência. Começaram a organizar "batalhas" não violentas entre gangues com um objetivo pacificador. As batalhas consistiam em uma competição artística.

Hip Hop e a música eletrônica

Entre as diferentes manifestações artísticas do movimento hip hop, a música se insere como papel primordial para inúmeras variações existentes em nossos dias. Além dos DJs, MCs, das mixagens e do Rap, a bateria eletrônica e os sintetizadores complementaram o âmbito das discotecas. Tudo começou quando Afrika Bambaataa resolveu criar uma batida base para suas músicas inspirando-se num álbum do grupo musical criador do estilo techno, Kraftwerk. O sucesso foi de imediato com a música "Planet Rock", fazendo de sua batida eletrônica a mais copiada para composição de muitas outras músicas. Surgia o eletrofunk, que por sua vez derivou-se em muitos outros estilos, como por exemplo, o miami bass e o freestyle.[5]

No Brasil

O berço do hip hop brasileiro é São Paulo, onde surgiu com força nos anos 1980, dos tradicionais encontros na rua 24 de Maio e no metrô São Bento, de onde saíram muitos artistas reconhecidos como Thaíde, DJ Hum, Styllo Selvagem, Região Abissal, Nill (Verbo Pesado), Sérgio Riky, Defh Paul, Mc Jack, Racionais MCs, MV Bill, Doctors MCs, Shary Laine, M.T. Bronks, Rappin Hood, entre outros.

Atualmente existem diversos grupos que representam a cultura hip hop no país, como Movimento Enraizados, MHHOB, Zulu Nation Brasil, Casa de Cultura Hip Hop, Posse Hausa (São Bernardo do Campo), Associação de Hip Hop de Bauru, Cedeca, Cufa (Central Única das Favelas). A principal premiação do hip hop no país é o Prêmio Hutúz, em cerimônia realizada todo ano. É organizado pelo Hutúz e é considerado o maior da América Latina.

Multidimensionalidade do hip hop

Segundo Alejandro Frigerio, a principal característica das artes negras é seu caráter multidimensional, denso. A performance mistura, em níveis sucessivos, gêneros que para a cultura ocidental seriam diferentes e separados (músicas, poesia, dança, pintura). A interpretação, a fusão de todos esses elementos que faz dela uma forma artística que não seria equivalente à soma dos elementos separados. Para compreender a multidimensionalidade da performace, é necessário fazê-lo em seu contexto social. Fora deste contexto social, somente se compreenderiam alguns dos elementos, mas não só como um conjunto de dança, música, poesia e artes plásticas, senão como uma performace inserida num contexto social, neste caso marginal, cheio de problemas sociais, educacionais e de exclusão social. Este contexto social é o que dá sentido à performance.

A importância do estilo pessoal

O diálogo entre a performance e a realça e o caráter criativo da performance. "O contraponto com um interlocutor também leva ambas performace a maiores e melhores desempenhos". O estilo pessoal é de grande importância na performance porque as características próprias de cada performace acrescentam as possibilidades de inovação e de criação de novos estilos. "Espera-se que o performace não só seja competente, mas que também possua um estilo próprio, o que pode ser observado na cultura negra urbana contemporânea, por exemplo, em todos os aspectos do hip-hop". O estilo pessoal não se valoriza em situações de representação, também é importante em todos os aspectos da vida cotidiana (estética, cumprimento, fala etc).

Cinco pilares

DJ mixando composições

DJ (disc-jockey)

Operador de discos, que faz bases e colagens rítmicas sobre as quais se articulam os outros elementos, hoje o DJ é considerado um músico, após a introdução dos scratches de GradMixer DST na canção "Rock it" de Herbie Hancock, que representa um incremento da composição e não somente um efeito. O breakbeat é a criação de uma batida em cima de composições já existentes, uma espécie de loop. Seu criador DJ Kool Herc desenvolveu esta técnica possibilitando B.Boys a dançarem e MCs a cantarem. O Beat-Juggling já é a criação de composições as pelos DJ nos toca-discos, com discos e canções diferentes. Há diversos tipos de DJs: o DJ de grupo, de baile/festas/aniversários/eventos em geral e o DJ de competição. Este por sua vez, faz da técnica e criatividade, os elementos essências para despertar e prender a atenção do público. Um DJ de competição é um DJ que desenvolve e realiza apresentações contendo scratchs, batidas e até frases recortadas de diferentes discos (samples). Esses DJs competem entre si usando todo e qualquer trecho musical de um vinil.

Rapping

O rap é um ritmo de música parecido com o hip hop, que engloba principalmente rimas, e é um dos cinco pilares da cultura hip hop. A tradução literal de rap é Rhythm and Poetry,[6] ou seja, uma poesia feita através de rimas, geralmente feitas em uma velocidade superior à do hip hop, tendo como exemplo o grupo The Last Poets.[7] O rap na maioria das vezes é feito sem acompanhamento de nenhum instrumento, ou simplesmente um DJ mixer.

Um grupo de MCs em apresentação

MC (master of cerimonies)

Mestre de Cerimônia, é o porta-voz que relata, através de articulações de rimas, os problemas, carências e experiências em geral dos guetos. Não só descreve, também lança mensagens de alerta e orientação, o MC tem como principal função animar uma festa e contribuir com as pessoas para se divertirem. Muitos MCs no início do hip-hop davam recados, mandavam cantadas e simplesmente animavam as festas com algumas rimas. O primeiro MC foi Coke La Rock, MC que animava as festas de Kool Herc.No Brasil os primeiros rimadores foram Jair Rodrigues, Gabriel o pensador entre grupos como balinhas do rap, Thaíde e DJ Hum, Racionais Mcs.O MC é aquele que através de suas rimas mostra as varias formas de reivindicação, angustias e injustiças com as classes socias mais desfavoraveis mostrando o poder da transformação.

Dançarino em Nova Iorque

Break dance

Grafite registrado no Rio de Janeiro

Break Dance (B-boying, Popping e Locking), por convenção, chama-se todas essas danças de Break Dance. Apesar de terem a mesma origem, são de lugares distintos e por isso apresentam influências das mais variadas. Desde o início da década de 1960, quando a onda de música negra assolou os Estados Unidos, a população das grandes cidades sentia uma maior proximidade com estes artistas, principalmente por sua maneira verdadeira de demonstrar a alma em suas canções. As gangues da época usavam o break para disputar território, a gangue que se destacava melhor era a que comandava o território.A dança é inspirada nos movimentos da guerra.

Grafite

Expressão plástica, o grafite representa desenhos, apelidos ou mensagens sobre qualquer assunto, feitas com spray, rolinho e pincel em muros ou paredes. Sendo considerado por muitos uma forma de arte, diferente do "picho", que têm outra função de apenas deixar sua marca, o grafite é usado por muitos como forma de expressão e denúncia.

Impacto Social

Dança

A dança hip hop inclui uma grande variedade de estilos, nomeadamente breaking, locking, popping, e krumping. Breaking, locking e popping foram desenvolvidos na década de 1970 por negros e Latino-americanos. O krumping surgiu na década de 1990, em comunidades Afro-americanas, em Los Angeles. O que separa a dança do hip hop de outras formas de dança são os movimentos de improvisação (freestyle) e que os dançarinos de hip-hop freqüentemente se envolvem em disputas nas competições de dança. Sessões de Freestyle e disputas geralmente são realizadas em uma cipher, um espaço de dança circular que se forma naturalmente uma vez que a dança começa.

Moda

A moda do hip hop é um estilo de se vestir de origem afro-americana, caribenha e latina, que teve origem no bairro The 5 Boroughs, em Nova Iorque, e mais tarde influenciou em cenas do hip hop em Los Angeles, Galesburg, Brooklyn, Chicago, Filadélfia, Detroit, Porto Rico, entre outros. Cada cidade contribuiu com vários elementos para o seu estilo geral visto hoje no mundo inteiro.[8][9][10]

Geralmente, as roupas utilizadas no hip hop são largas, para que os movimentos fiquem maiores, dando mais efeito visual para a dança. Também são utilizados bonés, muitas vezes virados para trás ou de lado. Na maioria das vezes, as roupas são vistosas.

Referências

  1. Chang, Jeff. Can't Stop Won't Stop: A History of the Hip-Hop Generation.
  2. Castillo-Garstow, Melissa (2008-03-01). Latinos in hip hop to reggaeton. Latin Beat Magazine. Página visitada em 2008-07-28.
  3. ARQUIVO DO HIP HOP. dynamite.terra.com.br. Página visitada em 2009-07-25.
  4. Rosen, Jody. "A Rolling Shout-Out to Hip-Hop History", The New York Times, 2006-02-12, p. 32. Página visitada em 2009-03-10.
  5. http://www.samplesdb.com/db/A/Afrika+Bambaataa SamplesDB - Afrika Bambaataa's Track
  6. Oxford English Dictionary
  7. [1] Ankeny, Jason, Allmusic.com profile of Last Poets; URL accessed February 01, 2007
  8. Kitwana, Bakari. The Hip Hop Generation: Young Blacks and the Crisis in African American Culture, p. 198.
  9. Keyes, Cheryl. Rap Music and Street Consciousness, p. 152.
  10. Wilbekin, p. 282.

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